terça-feira, 3 de abril de 2012

Filosofia de cozinha

A vida é como uma pia de cozinha:
De repente, quando você menos espera,
Está uma bagunça só e você se pergunta
“Como fui deixar sujar tanta coisa?”
Olhando para o caos, o caos olha para você
Que pensa ser impossível dar conta...
Aí você se questiona por onde começar.
Trata primeiro de por a mão na sujeira
Começando por juntar a peças semelhantes
Tenta organizar para ter espaço.
Trata de lavar os mais delicados,
Menos engordurados,
Aí olha para o escorredor e pensa:
Ih! Não vai caber...
Mas segue lavando, tirando o que é lixo.
Quando se dá conta já foi quase tudo,
Mas ficaram os problemas maiores,
Aqueles que tem crostas endurecidas
Pára, toma fôlego e enfrenta.
Alguns precisam de ajuda do fogo,
Água quente e palha de aço nesses casos.
Vai organizando, equilibrando e,
Como em um quebra cabeças,
Vê tudo lavado e cabendo
Pronto para secar e guardar.
A maior semelhança com a vida
É que geralmente se coloca ordem
Para recomeçar o caos.



Carlos Almeida 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Nota em contratempo


Se a harmonia em que vibramos
Às vezes descompassa,
É que este movimento sincopado
Faz parte dos adornos
De uma grandeza rítmica.
...Ora, se até as dissonâncias
Tem suas escalas abrilhantando
As sinfonias, também meu
Desajeitado, porém enorme
Amor, poderá ser tocante, e
Ecoará no teu coração.
Assim, eternamente, o
Mais melodioso dos sons será
Ouvido da boca do amor a cantar
Teu nome.

Carlos Almeida

Indefinível

Toda poesia
Toda canção
Toda arte
O que já se fez de bom
Ainda não é o bastante

Nada é belo que seja mais
Nada é romântico suficiente
Não há o que se diga ou se escreva
Que não seja mera sombra
Do que sinto por você!

Carlos Almeida

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Cavaleiro da vitória

Pare tudo!
Por um minuto
Esquece agonias
Lance o olhar
Para o céu
Pela janela
Olhe a lança do Guerreiro
De armadura e corcel
Veja o braço que a empunha
Olhe a fera que geme
Veja o escudo de prata
Que brilha
Nesta noite cheia!
... Fique em paz.

Carlos Almeida

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Arte viva

Quanto à arte indígena, que na maioria dos compêndios aparece como manifestação menor, como arte de “povos primitivos”, mereceria maior destaque pela sua riqueza, sua vitalidade, sua permanência.
As análises realizadas nessa área parecem-me um pouco deficientes, com registros pobres citando “vasos marajoaras” ou “arte plumária” e apenas com o olhar de estranhamento e admiração do homem branco como ao desembarcar das caravelas. A Arte indígena, especialmente por se manter viva e ter sua evolução própria, merece estudo particular, quem sabe com ponderações sobre ser a arte de um povo em sua própria terra recebendo influências exógenas, mas acima de tudo como Arte Maior e não apenas como capítulo introdutório de menor interesse.
Fica aqui, portanto, o desafio para as autoridades no assunto e o apelo para que voltemos os nossos olhares a essas manifestações como se olhássemos para um espelho da alma da pintura no Brasil.


Carlos Almeida

Primeiras pinceladas

A História da Pintura no Brasil costuma ser introduzida com a Arte rupestre e a Arte indígena [sobre esta última dedicarei maior espaço na próxima postagem]. Para uma análise mais consistente da Arte rupestre (pré-histórica) é necessário um mergulho na ciência arqueológica, especialmente para buscar a distinção entre manifestações que poderiam ser consideradas “arte pura” e o que esteve ligado a outras manifestações (magia, uma forma de escrita incipiente ou mesmo artesanato).


Isso ainda é muito discutido na própria Arqueologia e entre historiadores da Arte brasileira. Entendo que como qualquer manifestação pictórica, em si, deve ser considerada como manifestação artística, podemos, sim, ver nessa arte remota um elemento germinal. Entretanto o estudo delas, de maneira mais aprofundada, com análises e descrições mereceria um expediente interdisciplinar para promover sua real importância: História (incluindo Arqueologia, Paleontologia), Geografia, Geologia, Artes Plásticas e Antropologia.


[continua...]
Carlos Almeida

Proposta



Busco nesta postagem e em algumas seguintes, baseado em coleta de material já existente, mas com análise própria, discorrer sobre manifestações da Arte, com recorte e foco para o Brasil. Uso a “picada já aberta” por estudiosos e acadêmicos para desbravar, na imensa produção cultural brasileira, o que traduz o belo com técnica e emoção. Muitas vezes a Pintura esteve ligada ao poder e mesmo a seu serviço.
Em texto sobre a “Democratização da Cultura”, Daniele Canedo (da UFBA) fala da importância da participação popular quando o assunto é “encarar a cultura e o povo como pólos distintos e afastados”:


“As decisões sobre as políticas culturais são centralizadas nos governos e instituições, constituindo uma esfera pública estatal. A cultura é definida pela burocracia das secretarias de cultura, sem passar pelo crivo do público a que se destina. Levando em consideração apenas os ‘templos culturais’ (FARIA, 2003,p. 37), como teatros e galerias, como os lugares mais importantes para a realização da cultura, os defensores dessa política esquecem as ruas, as casas, as escolas e os espaços informais de sociabilidade.” [grifo nosso]

Tenho convicção que a arte pictórica brasileira, tão pouco conhecida ou valorizada por muitos, se acessível, poderia mudar o sentimento pelo ‘patrimônio simbólico’, que deve ser comum a todos, inspirando novas perspectivas e, talvez, mudanças no pensar e agir coletivos.
[continua...] 
Carlos Almeida
BlogBlogs.Com.Br